"Artistas de Itararé, Cidade Poema"

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Capital Artístico-Cultural Boêmica do Sul de São paulo

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Clã dos Fanáticos Por Itararé, Cidade Poema

Palco Iluminado de Andorinhas Sem Breque

Os Dez Maiores Artistas de Itararé, Ano 2011

Dez Maiores Artistas de Itararé















01)-Maestro Gaya







02)-Jorge Chuéri







03)-Irmãs Pagãs







04)-Paulo Rolim







05)-Silas Correa Leite







06)-Paschoal Melillo







07)-Rogéria Holtz







08)-Dorothy Janson Moretti







09)-Regina Tatit







10)-Armando Merege







Itararé, Bonita Pela Própria Natureza

Itararé, Bonita Pela Própria Natureza
Nosso Amor já Tem Cem Anos

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

DES-ENCONTROS, conto de Maria Coquemala




Des-Encontros – Conto de Maria Apparecida S. Coquemala

Talvez porque o acaso e não uma formidável inteligência divina direcione os destinos humanos... Ou porque sirigaitas despeitadas se contorcendo na dor dos cotovelos tramem contra os que se querem demasiadamente bem e contra as quais nasda se pode... Ou por razões outras, Riomar e Lael se desesperavam em seguidos desencontros, podendo-se ouvir até altas horas da noite, os lamentos do apaixonado Riomar contra abstratas paredes que lhe tolhiam a realização dos sonhos mais acalentados... Lamentos que Lael ouvia mergulhada em telepáticos sonhos do agitado sono, querendo fugir das mesmas castradoras paredes, de tal modo a envolvia a paixão por Riomar...
Que loucura era aquela que os obcecava, dominando a vontade? Assim se perguntavam eles, cuja vida real até então respondia a projetos cuidadosamente estudados, sempre senhores da sua vontade, fazendo das noturnas escapadas virtuais um contrapeso fugaz e brincalhão às pesadas responsabilidades reais do dia a dia. Não mais desde os primeiros encontros, quando passaram a criar recíprocas perspectivas, nunca sequer imaginadas e que os deixavam perigosamente vulneráveis e eriçados... E sem que houvesse qualquer explicação, tornavam-se progressivamente mais freqüentes e perigosos os obstáculos aos encontros pelos caminhos eletrônicos, os únicos possíveis... E conseguidos, tinham logo que se separar, pressionados pelas injunções domésticas, quedas das conexões, defeitos no micro... Como se um elo os ligasse como siameses, eram exatamente os mesmos, os infortúnios... Mal iniciavam uma conversa, sempre interessante - menos pelo que se diziam e mais pelo prazer de estarem juntos, pois que afetos e desejos extrapolavam das entrelinhas - e já tinham que suspender o que se diziam, adiar o que pensavam em dizer, para talvez não dizerem nunca mais, ou estancando no meio algo que tinha que ser dito ..
Sem que percebessem, o Zahir tinha entrado em suas vidas... Zahir, algo ou alguém com quem se entra em contacto e acaba por ocupar pouco a pouco o pensamento, até que não se consiga concentrar-se em nada mais, como ensinam os alfarrábios árabes. De algum modo, Riomar e Lael tinha se tornado reciprocamente o Zahir de si mesmos...
Pois de tal modo se atraíam e se queriam que só mesmo ele poderia explicá-los, levando-os até mesmo a pensar que tais problemas - intervalos forçados, fugas precipitadas, sumiços repentinos - tudo enfim mais os alimentava na recíproca busca, a cada dia mais intensa, indefinidamente, como numa espécie de Mil e Uma Noites, em que ambos se alternavam no papel de Sheerazade, empenhados em alimentar nas migalhas do tempo dos encontros, os sentimentos a cada dia mais possessivamente intensos.
E começaram a se perguntar o que era aquilo que os tomava por inteiro, corpo e alma, verdadeira obsessão no decorrer dos dias e das noites, sem tréguas, numa simultaneidade sub-reptícia e de tal modo que Riomar foi absorvendo Lael na mesma proporção em que ia sendo absorvido por ela... E desse modo, nos longos dias dos progressivos desencontros, a solidão na tela os angustiava mais e mais, trazendo o mesmo desassossego, o mesmo desejo tornado mais violento... Lamentos enchiam as noites de ais... Enquanto sirigaitas de cotovelos inflamados festejavam atentas...
E porque a vontade humana pode ter mesmo algo da grandeza do super-homem de que nos fala Nietzsche, antes que o Zahir os dominasse para sempre e por inteiro e se transformassem em abúlico e indivisível ser, juntaram os últimos farrapos da vontade bruxuleante e se insurgiram em nome do próprio afeto que paradoxalmente tanto os ameaçava na exacerbada união. Queriam fazer dos sentimentos algo maior e mais belo. Algo que transcendesse o poder manipulador do Zahir, e por isso mesmo fosse verdadeiramente belo. Da beleza que não tolhe, que nada cobra, que tudo oferece... E simultaneamente permitindo se terem intensamente, falando de filosofia, música e poesia, um poema lírico, uma composição de Mussorgsky, de Sócrates e de Nietzsche, mas pelo prazer maior da companhia. Que permitisse que noites e noites viessem e fossem deixando sempre no caminho percorrido a esperança de outras noites iguais; algo que não os impedisse de desejar e sentir o que as palavras não traduziam, por prescindíveis; que lhes permitisse continuar palmilhando o caminho que não sabiam bem aonde ia dar, mas nem era preciso saber, pois que era caminho melhor que a certeza da perda irreparável de si mesmos. Queriam ter em suas mãos o próprio destino, tecer conscientes a própria história...
E para isso lutaram sem tréguas até que o Zahir fosse derrotado e as noites voltassem a ser serenas, os encontros agradáveis... Faziam assim dos sentimentos o que tanto tinham desejado, algo maior e mais belo, que não tolhia, que nada cobrava, que tudo oferecia, se tendo tão intensamente quanto desejassem, falando de filosofia, música e poesia, sem que se tornassem reciprocamente escravos de si próprios.
Porém, com o rolar do tempo, longos intervalos lentamente foram se infiltrando nas conversas, o que não os incomodava. Lael sabia que sirigaitas astutas farejavam brechas, entendia, não era possessiva... Assim como Riomar aceitava de bom grado as incursões de Lael em salas diversas, levada pelo seu espírito sempre indagador...
E aos poucos, nem sempre as noites eram de encontro, não se importavam, reconheciam a mutabilidade de tudo, que o belo em um dado momento podia já não ser tão belo; que encontros podiam já não ser tão ansiosamente aguardados... Por vezes, um deles não comparecia, ou ambos, sem explicações, sem sutilezas, sem que se frustrassem, senhores de suas vontades, conscientes de que desse modo se renovavam, escapando da rotina. Mas, lentamente, Riomar e Lael pressentiram, impotentes, a separação que não buscavam... Foram deixando de se ver, até que não mais se encontraram... Sem que se dessem conta, esqueceram os endereços... Depois os cognomes... Até a própria história... Inexplicável ansiedade passou a afligi-los sem causa conhecida... Sempre recíproca e simultânea... Uma tristeza mansa pontilhava as horas, como a sombra de algo belo que se fora para sempre...
O Anti-Zahir tinha entrado sorrateiro em suas vidas...

Maria Aparecida Coquemala
Maria-13@uol.com.br


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