Comportamento &
Ética Humanista
ESTATUTO DO MEDO
“Medo de ver a polícia
estacionar à minha porta //Medo de dormir à noite // Medo de não dormi. // Medo
de que o passado desperte // Medo de que o presente alce voo// Medo do telefone
que toca no silêncio da noite // Medo de tempestades elétricas // Medo da
faxineira que tem uma pinta no queixo // Medo de cães que supostamente não
mordem //Medo da ansiedade! // Medo de ter que identificar o corpo de um amigo
morto // Medo de ficar sem dinheiro //Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá
acreditar nisso // Medo de perfis psicológicos //Medo de me atrasar e medo de
ser o primeiro a chegar // Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes //
Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado // Medo de ter
que morar com a minha mãe em sua velhice, e na minha // Medo da confusão //
Medo de que este dia termine com uma nota infeliz// Medo de acordar e ver que
você partiu // Medo de não amar e medo de não amar o bastante // Medo de que o
que amo se prove letal para aqueles que amo // Medo de viver demais // Medo da
morte. // (Medo) Raymond Carver)
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Se você tem MEDO, então,
na hora exata e líquida, ele, o medo, pode ser a sua única energia vital para o
sentido também exato de agir em seguida, de tomar sentido, de tomar partido, de
enxergar no escuro, e não correndo risco, escapar com vida...
Se você não tem medo,
então vc já está dominado, pois as aparências enganam, e se sentir seguro em
terra batida e campo minado nesses tempos tenebrosos, é estar desprotegido,
abrir a guarda, confiar no impossível...
O medo serve de sentido
e alerta, para o sujeito estar ativo, manter-se plugado, ciente da realidade do
risco emergente, se você, ocasionalmente e por força de perigo inusitado tiver
do que se esconder para não ser atingido, desviar para não ser predado, cair
fora do problema, ou, capitular...
Assim como não ter medo,
e então você pode estar se sentenciando a ser descoberto errado, no erro
flagrante, e sofrer sanção, porque nada é fácil e ninguém é santo, assim como
todos deixam suas pegadas, todos têm suas impressões digitais; e o medo regula
o erro, regula o acerto, controla o impulso do achismo e do roubismo, pois liga
as antenas, acende as lanternas, serve assim como endorfina ou vaselina, como
penicilina ou como adrenalina, como ponto de fuga ou como labirinto, como
caverna ou como proteção...
Os grandes momentos cruciais
dos grandes seres humanos em toda a história da humanidade em evolução, vem da circunstancial
logística decisão sábia de, num momento instintal de medo para a sobrevivência,
a sobrevida, o pão, a vitória, a conquista, o diploma pelo esforço pelo mérito,
o anel, o final feliz pelo conhecimento em dedicação total e singular...
As pessoas que não têm
medo, ou porque tudo foi fácil para elas, ou começaram a trabalhar tarde, ou estudaram
além do mínimo, e tb assim de alguma forma obtiveram vantagens ilícitas em
malfeitos bem dissimulados, ou ajudas ocasionais e sacrificiais a terceiros,
usados ou seduzidos por interesse de ocasião, e assim, na moleza, cientes da
impunidade, descarregam a pilha do medo que não conhecem (não se enfrentaram) ,
confiam-se impunes para sempre e seguros assim, então têm que mentir para encobrir
rastros, apagar resíduos de reincidências, fugir para dar calote, se esconder
de despejo, de cobrança judicial por impunidade de estilo, mudar de desculpa, mas,
como não têm medo, seguem roubando, errando, sendo espertos em vez de experts, a
tal ocasião faz o ladrão, embora a repetição do erro disforme faz o confiante muito
seguro de si, até o abate final...
O medo revela, a falta
de medo esconde, o medo aciona os canais sensitivos primitivos, a falta de medo
apazigua a contenção, disfarça e camufla, adere etiquetas de falso-felizes,
falso-mocinhos, falso-bonzinhos, e a pessoa se sentido confiante na falsa e
movediça zona de conforto, acaba se entregando, dando na cara, dando na vista,
não sacando o óbvio ululante, mesmo que vangloriando, mas sentados no rabo...
Ah a utilidade subjetiva do Medo...
Tudo o que deu certo na
moleza não cria medo. A pessoa certa, ou escolhida pela boa ou má sorte, tem
medo de perder por um mero erro de acaso ou de bala perdida do ocaso; ou de
análise errada de risco... quem nos protegerá quando não tivermos medo?
Nada deu certo; o medo
de não sobreviver funda heróis, mártires ou vitoriosos, pois o medo pode ser
tanto o impulso como o dínamo da sobrecarga, de suporte e de encaminhamento superior,
porque vencer com medo é o que traz soldados de volta pra casa depois da
guerra... Ele, no front, em risco, trauma, neura, fome, insalubridade, momento,
lugar inseguro e selvagem, luta mais e feito um louco para sobreviver àquele
inferno, pensa rápido, com atitudes de defesa e de ataque (e de sobrevivência) sensatas, até o medo de uma loucura, o que num
ímpeto calculado (o medo! o medo!) o conduz ao pódio... Medalhas de honra e de bravura
não acontecem por acaso, o medo, tácito ou não, as facultou... O perigo cria
monstros. Ou guerreiros.
Um dia a triste coincidência
do destino algoz, a inesperada encruzilhada
em situação errada dentro até do imponderável, e você, por falta de treino no
medo, capitula, avacalha, conta palha, firme na bravata de insensível-bobinho não
mede bem os prós e contras, confia no taco e, toma o incidente fatal na fuça, o
crime, o fiasco, o risco do medo não praticado, e a morte, os sacrifícios; o
pagamento do destino é muito pior do que da justiça que tarda e valha, e, diga-se
de passagem, abençoados sejam aqueles que pagam aqui, nesse plano espiritual...
Muitos dos sem medo, em
riquezas injustas, lucros impunes, propriedades roubos, enriquecimento ilícito,
escapam da justiça corrupta e moral da terra, e, tomando pé de que é impune, infalível;
deu tudo certo na ficha corrida (a tal capivara implícita), e o sujeito cômodo
e babaquara acaba se esquecendo dos flancos de desenlaces, tramas e lamas, e
acaba aquela casa, aquele carro, aquele erro, aquela glosa, aquele peculato, e
o medo sem ser treinado vira treino de tiro e alvo para parvo, para falso
malandro, e quando se vê, o santo não era santo, o rico não era rico, o honesto
era corrupto até as tripas, a classe média forjada era de embuste e pose, e
tudo se define, sucumbe o asnoia: teve medo de cair na arapuca, mas não treinou
no medo para evitá-la, se preservando na honestidade transparente. Pisou em
falso, errou no bote...
Medo, sábio
conselheiro. E se a família descobrir, e se o imposto de renda sacar? E se a polícia
levantar a ficha marota nos bastidores do poder, do cargo, das dissimulações,
bobas pancas e mãos sujas?
Depois não adianta o
medo do câncer, da biópsia positiva, da amante vingativa, da justiça comendo
pelas beiradas, pelo rabo, da família desconfiando e sacando que o tipo que
chamava todo político de ladrão, era um eleitor também corrupto e ladrão, o
sujo falando do rasgado, sem moral. Ladrão de si mesmo?
Depois não adianta ter
medo de Deus, medo da mulher ou do parente jeca usada como laranja, e descobrirem,
e a peça-chave finalmente descoberta sendo apenada e contar tudo; o próprio
irado colega de trabalho que finge que não vê mas tem a ficha de meio e embuste
prontinha, para quando você quiser sair do esquema, entregar todo mundo, pagar
por todos os outros também. E nenhum esquema podre perdoa infiéis de
malandragem...
Dostoievski, um dos
maiores escritores do mundo de todos os tempos, era epilético, numa época em
que a doença ainda era pouco conhecida, e obviamente tinha um terrível medo da
doença, acabando por depois de sofrer e sacar, usando-a em seu favor, pois o escritor,
por meio de alguns personagens, assim e por isso mesmo oferecia uma descrição
muito precisa dos sintomas mais estranhos que ela suscitava, em especial as
crises místicas. Por outro lado, os conhecimentos modernos sobre o tipo de
distúrbio de que ele aparentemente sofria, a epilepsia do lobo temporal, lançaram
nova luz sobre a personalidade do autor e o conteúdo de sua obra, o medo da
doença, por ela, com ela como sequela, (e instrumento de trabalho?) criou o
grande escritor, o fora de série.
León Tolstoi, um filósofo
de ir fundo na psicologia dos monstros que escrevia, que carregava – Somos
Todos Hamlets (o medo-monstro de Shakespeare) - numa confissão o escritor russo
contava do medo da vida como ela era (de como ele sofrera), e de como nesse
fulcro os camponeses primitivos o ajudaram a recuperar a fé e encontrar o
sentido da vida além do medo...
Aliás, William
Shakespeare dizia: “Não tenham medo da grandeza. Alguns nascem grandes, alguns
conseguem a grandeza, e outros têm a grandeza imposta a eles”. É assim que funciona? Deus não treina na dor inocentes inúteis e tolos?”
– “O medo é o combustível da humanidade, o medo de
perder, o medo de não ser, o medo de não chegar a lugar algum. Isso é o que nos
move”, disse Ronaldo David Segundo. Não ter medo de entrar no esquema? Periga
ver.
O esquema pune. O medo
pune, a falta de medo pune também. Escolha as cartas do jogo do medo, do
estatuto dele. Escolha as armas, os rótulos, as conquistas. Bem-vindo à bolha
do medo, ao arame do medo, à alfafa do medo, ao sistema rotativo e psicótico do
medo, o medo-embuste, o medo-rabo, o medo-panca, o medo-coisa, o medo com suas
prerrogativas todas, assim como o medo de voltar a passar fome, o medo de ser
ridicularizado por parentes envergonhados, por amigos informados, conterrâneos
suspeitando, no pacote o medo de ser execrado, o medo de perder os bens
conquistados de forma inidônea, a aposentadoria cancelada por improbidade, no
combo a impunidade, e o próprio sistema que o nutriu, fazendo vc refém dele; o
fomento de como enricou sem ter como, não justificável, o que então será o
mesmo medo-monstro a cassar você, a apagar você do sistema, do esquema, pois
tudo tem um preço a pagar e o medo do seu inimigo maior e mais forte de seu
meio talvez tenha maior autarquia, seja mais pontual, tenha mais infiltrações
hierárquicas de percurso, e você é só
mais um sem medo boiando na maionese porque se acreditou capaz e competente no
erro, quando a corda arrebenta para o lado mais fraco, os moscas mortas sem
medo, os peixes pequenos, e você querendo parecer tubarão entre carteis,
propinas, subornos, esqueminhas...
Tenha medo e se
liberte. Tenha medo e saque aquela dos evangelhos: “Disse Jesus: —Vai, vende
tudo o que tens, dá tudo aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e
segue-me. ” Marcos: 10.17
A ouvidoria do destino
na encruzilhada é mais embaixo. A corregedoria da impunidade na consciência sem
remorso paga pela pele e pela fala, pelos atos, pelos disfarces, e, num segundo
de investigação de alto a baixo, de cabo a rabo, de começo, meio e fim, com
fins escusos, e uma análise jurídico-processual-legal desmonta tudo, a casa
cai, daí é só medo de morrer e não deixar nada para os que achavam que você
erra correto, certinho, bonitão com panca, honesto, sincero, inteligente, culto,
trabalhador.
Bem-vindo ao Cartel do
Medo. O Estatuto cumpre-se. Qual é a sua? Vai encarar ou vai ter medo? Medo-Rabo?
O livro dos medos//Ainda não foi escrito//Mas como dói. //
Quem acredita na eterna
impunidade não tem medo. Mas tem o cinismo de elmo. Sincericidio não é para os
fracos, é onde os canalhas não frequentam com medo do oficio. Sabe de nada,
inocente. O passaporte da renúncia. A decodificação do medo-coisa
A consciência do medo
nos faculta um eterno estado de alerta. Pois pode sempre haver retorno não
previsto dentro do explicável... Medo não é sinal de fraqueza, mas de intenso
apuro tentando impedir riscos, e assim, no treino se adquire a técnica de estar
sempre ligado, sempre atento e forte, afinando intuições, formando refinamentos
de caráter e testamento psicológico, tipo, no popularesco, é melhor um frouxo com
medo instintal vivo do que um valente ciente de impunidade pego, punido ou morto, pois o medo qualifica e
permite segurança na hora em que você for testado na moral, e se sentir seguro
de si, não dissimulando, porque o errado conhece o cheiro do caçador, do que
pode ser uma vítima perigosa mesmo depois de morto... Um animal ferido e com
medo, é muito mais perigoso. Medo, segundo livros sagrados, é um sentimento
natural, tipicamente humano, compõe a persona. Você tem medo de que?
A oposição e o
confronto só brecam o vacilão. Assim como a ocasião faz o ladrão, o medo treinado
nas barricadas da lida, nas trincheiras da legalidade, no aparato comum dos fortes
com resiliência e consciência limpa, faz aquele que passou por dissabores
pensar rápido, ter noção exata da dimensão do perigo, quando então e por isso
mesmo, por assim dizer, sai-se bem, toma decisões com lucidez de quem foi
treinado nos desafios. Simples assim...
Quando a sua única arma
de se fazer defeso for seus gestos, suas palavras, seu currículo de trabalhos e
seus estudos e sua ficha limpa, mais suas mãos limpas, com suas conquistas
sóbrias e justificadas, sua inteligência provocada e limada em decisões sábias,
então você vai estar bem na vida, e na fita...
Tenha-se medo. Somos um
perigo quando sem medo estamos à deriva, no piloto automático, ao bel prazer da
suposta impunidade mal calculada (na ausência do medo) dando no ego, nos
calcanhares, no nosso rastro...
“O comportamento humano
se transforma na convivência tomando para si novas nuances antes inauditas. Ao
se confrontar com as dúvidas ou questionamentos rotineiros na sociedade, ou
seja, na vida em comum, a perspectiva é forjada em prol daquilo que se
pretende, ou, da resposta que mais lhe é aprazível, como estudado por Lev
Vygotsky, psicólogo, pensador e educador”. O ser humano lida muito mal com as ideias
contrárias à sua certeza subjetiva, causando assim a distância dos que lhe são
“desfavoráveis”, disse Iverson Kech Ferreira.
O medo vem prever,
impedir, prover de susto-conhecimento (evitando o erro), ou predar?
Quando desenvolvemos,
na busca-identidade de um sentido para o medo que nasce conosco (choramos ao
nascer de medo?) e nos acompanha na vida pregressa sequencial, o eixo
primordial dele foi aprendido, desenvolvido, organizado de alguma forma no
interior contextual, neurológico e psicossomático de nós, e deve ser esse
sentido dele, o medo-chave-mestra, para o nosso desenvolvimento espiritual,
sensorial, intelectual, profissional e sobrevivencial. Muitos erros, crimes,
prevaricações, maus feitos, poderiam ser evitados, se houvesse a consciência do
medo, dentro do círculo paulatinamente vidamorfoseado do caráter, bancando o
medo de vir a ser descoberto, risco de ser sancionado, sequelado, punido. Essa
espécie de “medo bom” evita o crime sob uma salutar ótica mínima da ética. O
medo é um grande motivador, crucial as vezes. Importante sempre, como estratagema
intima da própria defesa do caráter se sobrepujando. O medo por impulso. Temos
o direito (e o dever?) de ter medo. Não culpe o medo. Veja-o como um relé que
se afina, se compartilha, se assunta, se projeta como filamento de sua ocasional
lucidez extrema entre a ocasião do erro e o não-erro, a partir de pensar sobre
evidências, consequências. O medo as vezes é nossa única força sistêmica num momento
de errar e acertar... Ah o medo de envergonhar os amigos, o medo de envergonhar
os familiares incautos, ou mesmo sacrificar a igreja, a fé, o emprego, a
corporação toda manchada, então, nesse contexto de soma e prós e contras, você
torna-se correto, limpo, digno, vencendo pelo lado bom da força assim.
Não adianta vc ter medo
quando estiver no corredor da morte.
Muito melhor um medo-precaução-intuitivo para vc fazer de tudo na sua
vida pregressa para nunca estar nessa condição-situação-sanção... Bendito seja
o fermento do medo customizado a favor da verdade e da transparência
existencial. Quais os benefícios humanos das conquistas não honrosas, com as
moedas podres do mal feito, da corrupção, peculato, enriquecimento ilícito?
Diga... Melhore...
Socorra-se... Centrifugue... Certifique-se... Procure... Siga... Entenda...
Faça-se o Medo Preventivo; um medo experimental de aprimoramento do ego, do
caráter, da existencial dignidade ético-humanista e presencial de si... Medo ou
barbárie?
As engrenagens girando.
E você dentro do sistema, sem nenhum medo-remorso-consciência...
“Se gritar pega
ladrão”...
Ah as prisões que
guardamos dentro de nós mesmos.
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SILAS CORRÊA LEITE –
Itararé-São Paulo/Brasil, Membro da UBE-União Brasileira de Escritores
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Silas Corrêa Leite – Breve bibliografia
Educador, ciberpoeta, Jornalista Comunitário, blogueiro premiado, livre
pensador humanista e Conselheiro diplomado em Direitos Humanos. Consta em quase
800 sites como Estadão, Noblat, Correio do Brasil, Usina de Letras, Daniel
Pizza, Wikipédia, Observatório de Imprensa, Releituras, Cronópios, Aprendiz,
Pedagogo Brasil, Jornal de Poesia, Convívio e LibeArti, Itália, Storm Magazine
e InComunidade (Portugal), Brasil com Z (Espanha), Politica Y Actualidad
(Argentina), Poetas del Mundo (Chile), Fênix (Moçambique), Literatas (Angola),
Pravda (Rússia) outros. Publicado em mais de 100 antologias, até no exterior,
como Antologia Multilingue de Letteratura Contemporânea, Trento, Itália;
Cristhmas Anthology, Ohio, EUA e na Revista Poesia Sempre/Fundação Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro (Ano 2000/Gestão Ivan Junqueira). Autor entre outros de TIBETE, De quando você
não quiser ser gente, romance, Editora Jaguatirica, RJ; GOTO, A lenda do Reino
do Barqueiro Noturno do rio Itararé, Romance, Editora Clube de Autores, SC, e
Gute Gute, Barriga Experimental de Repertório, Romance, Editora Autografia, RJ