OUTONAIS
POEMAS DE OUTONO 2011 – Silas Correa Leite
ALGUÉM
Tem alguém vivendo a minha vida em meu lugar
MARMITA
A poesia
É a marmita do poeta
Arroz ovo repolho
E as barbas de molho
Na marmita
A dor a luz a desdita
Feijão arroz torresmo
A fome na busca de si mesmo
O poeta marmiteiro
Não se cabe inteiro
E então no poetar regurgita
A sua alma pobre de marmita
PESSEGUEIRO
Tinha um pessegueiro e havia uma tosca cabana humilde num belo e forte galho dele. Eu às vezes era mandorová, outras vezes camaleão, no alto da árvore frondosa e mágica. Até que um bendito dia descobri que o pessegueiro florido era a morte. E o pessegueiro florido veio buscar meu pai.
Poema Para Castro Alves
Para Antonio de Castro Alves (1847/1871)
In Memoriam
“Depois dos Navios Negreiros /Outras correntezas”
(Um Trem Pras Estrelas) - Cazuza, Gilberto Gil
.........................................................................
Castro Alves, Castro Alves
Os navios negreiros agora são outros
Os periféricos escravos terceirizados também
E todos sobrevivemos a um “salve geral”
Em mares bravios de urbanas irrazões; de dezelo público
Imbecilizadas humanas alojadas em estrumes palaciais
Entre espumas flutuantes de cervejas e esgotos, em chorumes...
Castro Alves, Castro Alves
Os românticos hoje estão com AIDS
E se dopam e se prostituem entre carentes
(Do infame capitalhordismo americanalhado)
Ou são emos que se poluem em tantos antros neomalditos
Afrobrasilis descendentes no sórdido neoliberalismo
De aspones entre usuários de craks, em cachimbos marginais...
Castro Alves, Castro Alves
O índio, o negro – quem não somos –
Na mestiçagem de pobres amalgamados também
Seres irados que danças como se hienas
Todos filhos desse solo, dessas seqüelas históricas, desenredos
Entre palácios de corvos do arbítrio e riquezas amorais
Samparaguai não conduz; é conduzido pelo crime organizado...
Castro Alves, Castro Alves
Tudo é nojo, luto, falso - um horror
A injusta Pátria-Nada é só remorso oficial
“O auriverde pendão de minha terra” balança, balança
Mas nos perdemos de nós, perdemos a fé, perdemos a esperança
De sermos parecidos com um país, um povo, uma nação
Terra de ninguém, explorados nessa pindorama de maracangalhas...
Castro Alves, Castro Alves
Áfricas tropicais com suas gomorras
De palafitas, favelas, guetos, becos, cortiços
E vamo-nos poetas malditos sem fúria; sem compromisso
Que não o de te lembrar com tristeza em cantagonia e temor
Há corrupção e impunidade sistêmicas, um horror
Pobres boiando em senzalas dos Sem Terra, Sem Pão, Sem Cor...
-0-
(2011 – 164 Anos do Nascimento do Poeta Castro Alves, que morreu aos 24 Anos em Salvador, Bahia)
RECOLHE
Depois que a mãe morreu
Minhas ruins foram abandonadas
TARDINHA EM ITARARÉ
Apito
Apito
Apito
O bagual do guardinha de trânsito
Engoliu um periquito?
REACORDES DE “MINS”
01)-Vaga-lume boêmio morreu preso
Queimado na bituca de um cigarro aceso
02)-Borboleta no arame farpado que encilha
Ainda sonha liberdade para escolher a trilha
03)-O grilo no silêncio da noite que teceu
Agora bate cartão vigiando o breu
04)-Pardal prata na parabólica em fascínio
É mais importante do que a estrutura de alumínio
POEMINHO ITARAREENSE
Você Sabe o Que é?...
Você sabe o que é
Pegar um tomate maduro no pé
Mordê-lo, comê-lo, até
Aquele gostinho de frutalegume
Nas dobradiças da boca?
Você sabe o que é
Catar uma goiaba madura no pé
Arvorezinha carregada, um tropé
E você com aquelas sementezinhas
Crespas no céu da boca?
Você sabe o que é
Tirar uma pitanga vermelhinha do pé
Triscá-la nos dentes fazendo um forfé
Na contenteza da fruta silvestre
Pintando o céu da boca?
.........................................
Você não sabe o que é
Tirar estrelinhas do céu de Itararé
E logo ver verrugas no dedo em pé
Apontando para a amplidão que ri
Feito ter estrelas no céu da boca?
R E B A N H O - De Quando Era Menino
De quando era muito piá, muito guri ainda, e achava
Que tatu de nariz era maionese de ranho verde-fedô
E que o sol sonrisal ia dormir a noitinha
E mandava a lua de prata vigiar o seu sonho
De sonhador pimpão...
De quando sonhava botar suspensórios em cascavel
E achava que a bulha no porão era o Batman roncando
Ou quando ouvia vozes e se sonhava poeta
Para dar cria ao seu pequeno rebanho de versos
De moleque pidão...
De quando achava que a sua querida mãe era eterna
E que as estrelas eram sucrilhos no céu de Itararé
Sabia que as flores bonitas eram colhidas primeiro
E que figo maduro tinha zíper com carnegão
De se pegar com a mão...
De quando era muito curumim e queria porque queria
Estudar, aprumar oficio, virar gente grande, escritor
Ouvindo os causos e hinos do pai músico, Antenor
No acordeão vermelho solando Saudades de Itararé
Saudades do Matão...
Agora a saudade é sua... de um tempo que se foi e agora é
Um retrato na parede da memória que ainda dói, Itararé
O menino cresceu, virou gente grande; tudo em vão
Porque ainda esconde uma criança no coração
Vestida de ilusão...
Coisas de Poeta
Quando acabar a tinta Vermelha/Da canetinha Bic/O que escreverei da vida?/Escreverei com lápis/Até gastá-lo/E também desenharei/Estrelas, caramujos, pêssegos./Acabando o lápis/Como escrever/Os mistérios do amor/Pássaros, flores – e ilhas?/Escreverei com carvão/E então porei/Preto e branco nos poemas/Tristes, como eu me sou/Acabando o carvão/O que farei/Sem ter como me registrar/Na aquarela do mundo?/Gritarei por socorro/Chorarei/-Minha vida por uma caneta!/Um lápis, um computador!/(Escreverei na mente/Decorarei./Arquivos no cérebro/Registrarão os pertences)/Cortarei o meu dedo indicador direito/E com sangue escreverei no meu peito:/Nasci para Escrever/POR FAVOR, DEIXEM-ME VIVER!
POEMA - DOWNLOAD (GUENIZÁ)
-Você tem um aparelho de TV
Para chamar de LAR?
(Em Pasárgada não há aparador de grama)
-Você tem um computador de bordo
Para chamar de LAR?
(Em Shangrilá não há ópio ou cocaína)
-Ah o nosso amor e ódio eterno!
(Civilização humana? – Boa idéia!)
Você tem um rotavirus smartphone
Para chamar de LAR?
(Para a morte não há pen-drive ou cabo USB)
Você tem uma amante como avatar na web
Para chamar de LAR?
-O que é que você realmente tem?
-O que é que você realmente é?
Que não-lugar é um LAR?
Quem é você? (O que você vai fazer disso?)
O que é um LAR? (No final feliz todos morrem)
Lar-lágrima-lugar...
(Estamos seguros em algum lugar?)
-Sangre os seus passos...
Nasci – Mas com um botão de EXISTIR quebrado
(“Exit” é mais embaixo
Quase sete palmos comendo capim pela raiz)
Minha pele-cela e meu lar epidérmico
(Vim para devolver!)
TV-LAR, doce lar – Sweet-Home Made in CIA
Minha vida-corpo meu lar – lugar de angústias e neuras
E, acessórios pré-qualificados de coiso
(Bill Gates o nosso pai adâmico de lares que se acoplam?)
-Ninguém está segurando a minha mão agora...
Você não está seguro nem com você
Sem conexão, nem para existencialiar o kit-vitae mix
(Os exércitos agora são tecnologias
Você tem que seguir o chip da placa-mãe: range e agoniza)
O download é mais embaixo...
Baixo arquivos para sobreviver.
Meio que sigo rap-zumbi feito um guenizá do limbo...
V A C I L A G E N S
(Catequeses Misturebas)
Para Marilena Chauí
“Nunca fomos catequizados.
Fizemos foi Carnaval... ”.
Oswald de Andrade
“Não fomos catequizados...
-Fizemos foi Carnaval”; um fuzuê
Um forfé – e, amalgamados
O europeu o índio e o negro
Que tudo acabou mistureba bundalelê
.................................................................
Que “catequizados” que nada
(Nem éramos ainda pátria amada)
E somamos então o crucifixado
Ao tupi-guarani ninhal pelo nosso lado
Depois da mestiçagem, do tropé
Nem cruz, nem conversão ou fé
Dos mitos trazidos da África mãe
Juntaram a Aparecida do Candomblé
Não fomos catequizados: qual o quê
(Quem essa historicidade não vê?)
Macumba, capoeira – a escravatura
E mais o silvícola de alma muito pura
Foi um mosaico, uma soma; aquarela
De terra em que se plantando tudo dá
Da galinha luso nauta ao mandorová
Foi uma patacoada de encher o pacová
Mas que bendito cristianismo que nada
(A exploração era a triste cruzada)
Foi um Carnaval só, a tal religião
Cana, ouro em pó, vacilagens (na inquisição...)
O jeitinho brasileirinho era um só
Do samba matreiro ao qüiproquó
De José de Anchieta à Marilena Chauí
Tudo um antropológico e antropofágico rififi
Casagrande, Senzala, cabocla babel
Mais a igreja exploradora; um bordel
A conversão foi cênica, só no papel
Do nativo ao bandeirante-bandido, vil infiel
.............................................................................
Não irmãos meus, não fomos catequizados
Entre arados – e rudes assim, amalgamados
Fizeram um baita carnaval tropical só
Ai pátria amada assim usurpada de dar dó!
Do pindorama às gerais, lusamérica, cafundó
E sambalelê: derramas entre ouro em pó
(“Comunga escravo, comunga que é “mió”)
Jeitinho brasileiríssimo; do nativo matuto coió
De sangrenta colonização, dessa quanta misturança vil
Sangrias e chorumes pariram esse nosso “Puta Brasil!”
-0-
Silas Correa Leite, Santa Itararé das Artes/Samparaguai/Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net
POEMAS DE OUTONO 2011 – Silas Correa Leite
ALGUÉM
Tem alguém vivendo a minha vida em meu lugar
MARMITA
A poesia
É a marmita do poeta
Arroz ovo repolho
E as barbas de molho
Na marmita
A dor a luz a desdita
Feijão arroz torresmo
A fome na busca de si mesmo
O poeta marmiteiro
Não se cabe inteiro
E então no poetar regurgita
A sua alma pobre de marmita
PESSEGUEIRO
Tinha um pessegueiro e havia uma tosca cabana humilde num belo e forte galho dele. Eu às vezes era mandorová, outras vezes camaleão, no alto da árvore frondosa e mágica. Até que um bendito dia descobri que o pessegueiro florido era a morte. E o pessegueiro florido veio buscar meu pai.
Poema Para Castro Alves
Para Antonio de Castro Alves (1847/1871)
In Memoriam
“Depois dos Navios Negreiros /Outras correntezas”
(Um Trem Pras Estrelas) - Cazuza, Gilberto Gil
.........................................................................
Castro Alves, Castro Alves
Os navios negreiros agora são outros
Os periféricos escravos terceirizados também
E todos sobrevivemos a um “salve geral”
Em mares bravios de urbanas irrazões; de dezelo público
Imbecilizadas humanas alojadas em estrumes palaciais
Entre espumas flutuantes de cervejas e esgotos, em chorumes...
Castro Alves, Castro Alves
Os românticos hoje estão com AIDS
E se dopam e se prostituem entre carentes
(Do infame capitalhordismo americanalhado)
Ou são emos que se poluem em tantos antros neomalditos
Afrobrasilis descendentes no sórdido neoliberalismo
De aspones entre usuários de craks, em cachimbos marginais...
Castro Alves, Castro Alves
O índio, o negro – quem não somos –
Na mestiçagem de pobres amalgamados também
Seres irados que danças como se hienas
Todos filhos desse solo, dessas seqüelas históricas, desenredos
Entre palácios de corvos do arbítrio e riquezas amorais
Samparaguai não conduz; é conduzido pelo crime organizado...
Castro Alves, Castro Alves
Tudo é nojo, luto, falso - um horror
A injusta Pátria-Nada é só remorso oficial
“O auriverde pendão de minha terra” balança, balança
Mas nos perdemos de nós, perdemos a fé, perdemos a esperança
De sermos parecidos com um país, um povo, uma nação
Terra de ninguém, explorados nessa pindorama de maracangalhas...
Castro Alves, Castro Alves
Áfricas tropicais com suas gomorras
De palafitas, favelas, guetos, becos, cortiços
E vamo-nos poetas malditos sem fúria; sem compromisso
Que não o de te lembrar com tristeza em cantagonia e temor
Há corrupção e impunidade sistêmicas, um horror
Pobres boiando em senzalas dos Sem Terra, Sem Pão, Sem Cor...
-0-
(2011 – 164 Anos do Nascimento do Poeta Castro Alves, que morreu aos 24 Anos em Salvador, Bahia)
RECOLHE
Depois que a mãe morreu
Minhas ruins foram abandonadas
TARDINHA EM ITARARÉ
Apito
Apito
Apito
O bagual do guardinha de trânsito
Engoliu um periquito?
REACORDES DE “MINS”
01)-Vaga-lume boêmio morreu preso
Queimado na bituca de um cigarro aceso
02)-Borboleta no arame farpado que encilha
Ainda sonha liberdade para escolher a trilha
03)-O grilo no silêncio da noite que teceu
Agora bate cartão vigiando o breu
04)-Pardal prata na parabólica em fascínio
É mais importante do que a estrutura de alumínio
POEMINHO ITARAREENSE
Você Sabe o Que é?...
Você sabe o que é
Pegar um tomate maduro no pé
Mordê-lo, comê-lo, até
Aquele gostinho de frutalegume
Nas dobradiças da boca?
Você sabe o que é
Catar uma goiaba madura no pé
Arvorezinha carregada, um tropé
E você com aquelas sementezinhas
Crespas no céu da boca?
Você sabe o que é
Tirar uma pitanga vermelhinha do pé
Triscá-la nos dentes fazendo um forfé
Na contenteza da fruta silvestre
Pintando o céu da boca?
.........................................
Você não sabe o que é
Tirar estrelinhas do céu de Itararé
E logo ver verrugas no dedo em pé
Apontando para a amplidão que ri
Feito ter estrelas no céu da boca?
R E B A N H O - De Quando Era Menino
De quando era muito piá, muito guri ainda, e achava
Que tatu de nariz era maionese de ranho verde-fedô
E que o sol sonrisal ia dormir a noitinha
E mandava a lua de prata vigiar o seu sonho
De sonhador pimpão...
De quando sonhava botar suspensórios em cascavel
E achava que a bulha no porão era o Batman roncando
Ou quando ouvia vozes e se sonhava poeta
Para dar cria ao seu pequeno rebanho de versos
De moleque pidão...
De quando achava que a sua querida mãe era eterna
E que as estrelas eram sucrilhos no céu de Itararé
Sabia que as flores bonitas eram colhidas primeiro
E que figo maduro tinha zíper com carnegão
De se pegar com a mão...
De quando era muito curumim e queria porque queria
Estudar, aprumar oficio, virar gente grande, escritor
Ouvindo os causos e hinos do pai músico, Antenor
No acordeão vermelho solando Saudades de Itararé
Saudades do Matão...
Agora a saudade é sua... de um tempo que se foi e agora é
Um retrato na parede da memória que ainda dói, Itararé
O menino cresceu, virou gente grande; tudo em vão
Porque ainda esconde uma criança no coração
Vestida de ilusão...
Coisas de Poeta
Quando acabar a tinta Vermelha/Da canetinha Bic/O que escreverei da vida?/Escreverei com lápis/Até gastá-lo/E também desenharei/Estrelas, caramujos, pêssegos./Acabando o lápis/Como escrever/Os mistérios do amor/Pássaros, flores – e ilhas?/Escreverei com carvão/E então porei/Preto e branco nos poemas/Tristes, como eu me sou/Acabando o carvão/O que farei/Sem ter como me registrar/Na aquarela do mundo?/Gritarei por socorro/Chorarei/-Minha vida por uma caneta!/Um lápis, um computador!/(Escreverei na mente/Decorarei./Arquivos no cérebro/Registrarão os pertences)/Cortarei o meu dedo indicador direito/E com sangue escreverei no meu peito:/Nasci para Escrever/POR FAVOR, DEIXEM-ME VIVER!
POEMA - DOWNLOAD (GUENIZÁ)
-Você tem um aparelho de TV
Para chamar de LAR?
(Em Pasárgada não há aparador de grama)
-Você tem um computador de bordo
Para chamar de LAR?
(Em Shangrilá não há ópio ou cocaína)
-Ah o nosso amor e ódio eterno!
(Civilização humana? – Boa idéia!)
Você tem um rotavirus smartphone
Para chamar de LAR?
(Para a morte não há pen-drive ou cabo USB)
Você tem uma amante como avatar na web
Para chamar de LAR?
-O que é que você realmente tem?
-O que é que você realmente é?
Que não-lugar é um LAR?
Quem é você? (O que você vai fazer disso?)
O que é um LAR? (No final feliz todos morrem)
Lar-lágrima-lugar...
(Estamos seguros em algum lugar?)
-Sangre os seus passos...
Nasci – Mas com um botão de EXISTIR quebrado
(“Exit” é mais embaixo
Quase sete palmos comendo capim pela raiz)
Minha pele-cela e meu lar epidérmico
(Vim para devolver!)
TV-LAR, doce lar – Sweet-Home Made in CIA
Minha vida-corpo meu lar – lugar de angústias e neuras
E, acessórios pré-qualificados de coiso
(Bill Gates o nosso pai adâmico de lares que se acoplam?)
-Ninguém está segurando a minha mão agora...
Você não está seguro nem com você
Sem conexão, nem para existencialiar o kit-vitae mix
(Os exércitos agora são tecnologias
Você tem que seguir o chip da placa-mãe: range e agoniza)
O download é mais embaixo...
Baixo arquivos para sobreviver.
Meio que sigo rap-zumbi feito um guenizá do limbo...
V A C I L A G E N S
(Catequeses Misturebas)
Para Marilena Chauí
“Nunca fomos catequizados.
Fizemos foi Carnaval... ”.
Oswald de Andrade
“Não fomos catequizados...
-Fizemos foi Carnaval”; um fuzuê
Um forfé – e, amalgamados
O europeu o índio e o negro
Que tudo acabou mistureba bundalelê
.................................................................
Que “catequizados” que nada
(Nem éramos ainda pátria amada)
E somamos então o crucifixado
Ao tupi-guarani ninhal pelo nosso lado
Depois da mestiçagem, do tropé
Nem cruz, nem conversão ou fé
Dos mitos trazidos da África mãe
Juntaram a Aparecida do Candomblé
Não fomos catequizados: qual o quê
(Quem essa historicidade não vê?)
Macumba, capoeira – a escravatura
E mais o silvícola de alma muito pura
Foi um mosaico, uma soma; aquarela
De terra em que se plantando tudo dá
Da galinha luso nauta ao mandorová
Foi uma patacoada de encher o pacová
Mas que bendito cristianismo que nada
(A exploração era a triste cruzada)
Foi um Carnaval só, a tal religião
Cana, ouro em pó, vacilagens (na inquisição...)
O jeitinho brasileirinho era um só
Do samba matreiro ao qüiproquó
De José de Anchieta à Marilena Chauí
Tudo um antropológico e antropofágico rififi
Casagrande, Senzala, cabocla babel
Mais a igreja exploradora; um bordel
A conversão foi cênica, só no papel
Do nativo ao bandeirante-bandido, vil infiel
.............................................................................
Não irmãos meus, não fomos catequizados
Entre arados – e rudes assim, amalgamados
Fizeram um baita carnaval tropical só
Ai pátria amada assim usurpada de dar dó!
Do pindorama às gerais, lusamérica, cafundó
E sambalelê: derramas entre ouro em pó
(“Comunga escravo, comunga que é “mió”)
Jeitinho brasileiríssimo; do nativo matuto coió
De sangrenta colonização, dessa quanta misturança vil
Sangrias e chorumes pariram esse nosso “Puta Brasil!”
-0-
Silas Correa Leite, Santa Itararé das Artes/Samparaguai/Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net
Vamos por Itacaré a participar da Folhinha Poética 2013!
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