TIBETE – o novo romance de Silas Corrêa Leite – E quando você não
quiser mais ser gente?
-O novo romance do escritor Silas Corrêa Leite, lançado ao final do ano
passado pela Editora Jaguatirica, RJ, vem bem a calhar, tendo em vista o
tenebroso momento em que se resta o Planeta Terra, e particularmente o Brasil
também em crise sem precedentes históricos, em que há uma falência generalizada
de valores e estruturas sociais, terrivelmente depondo com o que deveria ser o
público fito ético-plural-comunitário da sociedade nesses tempos de falta de qualidade
de vida e de uma convivência humana de baixíssimo nível. Fugir seria a melhor
estratégia? Loucos escrevem. Céu ou inferno moram nos desfechos? O personagem principal do livro, nesse contexto
todo relata sobre as tormentas de um ex-escritor marcado, com altos e baixos na
vida, mas, afinal evoluído socialmente falando, e que num estranho súbito
momento, um bendito dia saca que não é feliz; avalia que o que conquistou não o
satisfaz, quando conclui que “vencer na vida” não é tudo, não significa nada,
não faz sentido, e, parafraseando Caetano veloso se questiona: tudo o que conquistou,
a que será que se destina? Fechamento de ciclo.
De cara resolve pular fora do sistema, da redoma de infernos que é seu
meio conturbado. Larga tudo e vai em busca de um lugar para chamar de céu, um infinito
particular que seja. Quer um canto para se esconder de ser gente, de ver gente,
se tratar de si, se reconciliar, cavar uma trilha, um buraco, antes que faça uma
besteira... Estresse e paranoia de finalmente se descobrir sendo uma coisa que
não quis ao final de tudo, passando da idade do lobo.
Volta para sua aldeia, Itararé-SP, foge de existir. Lá vai morar no
mato, mal sabendo lavar um par de meias, um lenço, ou fritar um ovo. Terá que,
numa emergencial e improvisada cultura de subsistência, adaptar-se na marra,
longe da urbanidade tantã e da civilização em derrocada, para repensar o
caminho que fez, como se numa espécie de jornada espiritual de recolhimento temporão,
de reconciliação e mesmo de depuração de sua interioridade ferida, de sua
sensibilidade lixada de ver, fermentar, engolir sapos, aceitar regras, chorar,
sofrer, conviver, sobreviver... Com o mundo num labiríntico caos, com sua crise
de identidade de turrão, concorrente, sedentário, já obeso, calvo e com
problemas de saúde, além de síndromes pintando num campo minado de cobranças
ridículas, entre boletos de posses e sachês viciados de poses insatisfatórias,
mais doenças paraexistenciais e questionamentos de neuras, o personagem
enquanto se adapta num barracão dentro de um manto de selva, vai relembrando o
que sofreu, as perdas e danos, idas e vindas, traições e incompletudes, cartéis
e cassinos, bolando artes loucas dentro do funil da crise de perquirir, ao
mesmo tempo em que compactua com o recanto que ergueu pra si, e confronta a
natureza primária pertinho o abraçando e sustentando, na sua busca de paz, o terrível encontro consigo
mesmo, pela frustração com tudo, o nada que é tudo, feito um desorientado cidadão
pós-moderno num mundo corrompido, procurando se achar enquanto há tempo.
Na capa do romance de 382 páginas, o aviso: “Destruam este diário, ou
destruam suas vidas”. A obra é isso mesmo, uma espécie de diário de resistência
e luta, de busca da reformatação do ser, de uma transformação radical, mais, a de
busca de um buraco para se encaixar depois de questionamentos, se isolando
feito um Tibete íntimo, uma guarita, uma cápsula de nave, um jardim secreto, um
esconderijo, uma Pasárgada, uma Shangri-lá, que é na emergência da situação de
conflito e confronto, a periferia rural de Itararé, na lonjura distante de um
lugar em que o judas perdeu o All-Star.
O deslocado personagem meio eremita que sonha um Mosteiro Ateu ou um Monastério
Lico, as vezes introspectivo, de acordo com a lua, as vezes anarquista libertário,
ou romântico sonhador da pá virada, quando não incendiário, perigoso, detona
tudo, registra, narra, incendeia irrazões. E o leitor sendo testado, também vai
acabar fazendo uma viagem de recolhimento que o livro Tibete faculta e induz,
antes que venha o cometa ou o cavalo amarelo do Apocalipse. Vai nessa toada o
romance.
Lendo o Tibete você sofre, se encontra, revolta, se confronta, assusta mas
se requalifica, a repensar melhor sua vidinha merreca e seus infernos de grifes,
impropriedades, consumismo e obrigações piradas de meros vazios existenciais. E
pode clarear a mente adubada pela mídia abutre; deixar de ser bovinamente refém
do consumismo irado, começando assim a vitimizar conquistas espúrias, pois,
como diz Raul Seixas, “Quem entra em buraco de rato/De rato tem que transar”. Nesse
mundo insano, vencer numa sociedade assim não significa nada, muito menos
mérito notório. Liberte-se também. Leia
Tibete e também Tibete-se. Eis o verbo
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BOX: Livro: TIBETE, de
quando você não quiser mais ser gente - Gênero:
Romance - Editora: Jaguatirica, RJ - E-mail da editora: jaguatiricadigital@gmail.com - E-mail do autor: poesilas@terra.com.br - Links para adquirir a obra:
01)-EDITORA
02)-MERCADO EDITORIAL
03)-AMAZON, link:
04)-Livraria Cultura
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Vejam
Entrevista minha sobre
meu romance TIBETE na Rádio UNESP FM, ao Jornalista, Escritor e Crítico de Arte
Oscar D´Ambrósio
O áudio da entrevista:
Silas Corrêa Leite
[Entrevista 2945]
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