Resenha Critica
GOTO,
Novo Romance de Silas Correa Leite
GOTO
- A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé
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Os
seres humanos me assombram
Markus
Zusak
Prosseguindo na sua
bela carreira já provada brilhante, arrojada, sempre com surpreendentes idéias
novas e fora do comum, o literato premiado Silas Correa Leite lança seu
vigésimo livro, e, desta feita um Romance de mais de 400 páginas, denominado
GOTO – A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé. Uma obra literária
que evoca a fauna ribeirinha de uma cidade boêmia, Itararé, terra do autor, com
seus tantos eméritos contadores de causos do arco da velha, em que um estouvado
menino deficiente físico ao ganhar idade fica com a missão de imitar o pai e levar
passageiros no barco Faísca de Aladim do lado paulista do Rio Itararé, à uma
cidadela no Paraná, Bom José da Versalhada que mais parece uma cabeça de burro.
O menino atiçado, sensível
– sensitivo? – começa a baldear além de passageiros comuns a passageiros estranhos,
e também começa ganhar mais do que o pai que é barqueiro durante o dia, e
começam a acontecer coisas inexplicáveis, surreais, fantásticas, além do Goto,
personagem principal do rio, sempre vir, ao raiar de cada manhã com um causo
pra lá de interessante, do tipo história que povo conta, numa narração cênica,
uma história pra contar pros velhos curiosos e sua platéia pais naquele ermo
rural.
Os causos no começo
são uma espécie assim de cinema mental dos velhos, depois começam a acontecer
coisas, o menino parece conhecer a alma do rio, a alma da canoa, a alma da
noite, a alma do lugar, aqueles cafundós. Chega a um termo em que, os causos
não se sabe se são do passado, do presente, do futuro, e se ele estaria
transportando além de passageiros notívagos, talvez, também almas penadas encalhadas
nos desvãos de outros desmundos, que vêm no moço sensível, solícito e puro uma
espécie de abridor de corações, destinos, mentes e vidas passadas, e deitam
falatório enquanto ele ganha o rio levando a trazendo gente e não gente.
Nessas contações,
cada dia um causo, Goto começa a reavaliar a vida, a sondar e criticar os pais,
entrando na fase da adolescência e logo ficando jovem, mesmo aleijado, o remo do
barco sendo sua sua muleta, nos finca-pés da canoa meio encantada tece sua
vida, sua fuga, sua alma-rio. Uma espécie de terceira margem do rio Itararé com
um sentido historial. Silas novamente surpreende nesse romance que levou cinco
anos para ser elaborado, e os causos do arco da velha surpreendem ainda mais,
mais a alma do menino sendo revelada assim como vão revelando, como o rio-alma
do lugar para lá de um recanto rural em que o Judas perdeu o All-star.
Você se delicia com
o alto estilo peculiar do autor na narrativa garbosa, com os causos que trazem
a fala ribeirinha do contador náutico, mais as alegrias e tristezas disso,
quando o lugar também começa receber gente que não são dessas paragens. A alma
do Goto é exposta, seu sistemático e implicante pai com mão de pardal, sua mãe humilde
que adora o filho doente – achando que ele é louco - que fala só por versinhos,
e a canoa-imaginação vai singrando profundezas de momentos, almas, situações de
conflitos e tudo mais.
Goto é isso: um
romance literalmente de peso. O autor faz uma leitura territorial, humana e
algo fantástico bem condizente com seu estilo e sintaxe própria, como se o
lugar fosse assim uma espécie de encruzilhada de outra dimensão. Goto, feminino
de gota, e sua história de vida, um inocente, puro e simples ser humano
querendo andar nas palavras, saltar pocinhas nas falas, calcanhar de
frigideira, andar de segura peido, e a cobrar além do custo da empreita pela
viagem no rio Itararé, também um causo, uma história de lambuja, uma fala mansa
para depois seu bico doce retratar empostando voz aos genitores. Silas Correa
leite vai narrando as acontecências e lendo a alma-água do menino, pondo o
leitor fervoroso a indagar o que é aquela tal contação de todo santo dia, o que
realmente GOTO é ou pode ser, o que aquele lugar marcado de curva de rio fez
dele, o que ele mesmo sonhou, sentiu, pensou e fez de si mesmo – na alma, no
coração, no espírito, no psicossomático por décadas levando e trazendo o que
mal sabe o que é ou ao é. A mãe submissa, o pai interesseiro, o rio com altas e
marés e a canoa também meio encantada já conhecendo a fala do dono, e vai o
romance bem proseado, como se fosse o autor, ele mesmo, uma espécie assim de
Goto também.
História com
começo, meio e fim, muito bem tramada, gostosa de se ler, densidade narrativa,
o estilo todo próprio do autor elaborando um clássico que a obra se tornou, a
sintaxe do autor apontando cargas de profundidade, neologismos, palavras
recuperadas, situações clarificadas, pertinências e entornos, e mesmo a visita
do outro lado do mundo de soldados do imperador, escravos nus, mais aparecimento
de moedas franceses do tempo de Debret e Saint Hilaire (que passaram por
Itararé) dando tons bonitos ao encorpamento da tessitura do livro.
GOTO ainda vai ser
reconhecido como um dos melhores livros lançados por Silas Correa Leite. Jean-Paul
Sartre dizia que ninguém é escritor por haver decidido dizer alguma coisa, mas
por haver decidido dizê-las de determinado modo. Assim é Silas Correa Leite
nessa obra prima que é O GOTO. Bem-vindo à lenda do reino encantado do
barqueiro noturno na terceira margem do rio Itararé.
O livro está à
venda como ebook ou como livro impresso no site:
-0-
Antonio T.
Gonçalves
parabéns.
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