Triste Poema Historial
Contemporâneo
QUANDO
OS OCEANOS CHORAM UM MENINO...
(Somos
Todos Aylan Kurdi!)
“Toda
história é remorso”
Carlos
Drummond de Andrade
Para
o Menino Sírio Aylan Kurdi, In Memoriam
... o corpo de um
menino sírio morto veio emergir numa praia da Turquia
Como se o mar
revolto não compactuasse com o horror do dezelo humanus
A Europa – berço da
civilização – e o estertor do inumanismo ocidental
Quando os oceanos
choram um menino, é o fim da dignidade da espécie...
... E a nossa nave Terra,
que em chinês quer dizer exatamente isso, Menino
E as marés chorando
um menino; é como se estivessem chorando a própria Terra
Pobres seres
abandonados de qualquer ética plural comunitária humanista
A nova desordem
econômica mundial, e o caos do capitalhordismo americanalhado em áreas pobres
do planeta
Índios, negros,
palestinos; destruição, escravismo, saques por ouro, prata, cobre, silício, petróleo,
terra
E genocídios,
sangue por óleo, colonizações exploradoras levando falso progresso
Mas quando seres
famintos como sequelas do que deixaram procuram paz e pão, e o apoio
sobrevicencial dos que os exploraram
São rejeitados como
imigrantes pobres, doentes, famintos; refugiados. E as nações se recusam a
ajudar o que é refugo do capitalismo-câncer
... o corpo de um
menino sírio de nome Aylan Kurdi, filho de refugiados, que foi emergir numa
praia da Turquia
Representa um
escárnio da civilização europeia e mundial em total decadência
De uma guerra em
que todos perdem, mas o insano e nefasto lucro-fóssil ganha
E esse menino morto
é um atestado de falência moral da sórdida raça humana...
Os ventos choram, as
árvores choram, as chuvas choram, choram todas as mulheres
Choram todas as
mães, artistas, pensadores, sentidores; a sensibilidade arrebentada
A sociedade
pústula, a Europa indigna, a América Cloaca de estrelas vermelha de sangue de
explorados
E um menino
prostrado passa a ser o símbolo da falência do futuro na vergonhosa
historicidade judaico-cristã...
Quando a barriga do
oceano chora um menino, deixando seu corpo a beira mar
É o fim. É o ranço
do neoliberalismo câncer, de privatarias, da inumana terceirização
neoescravista
Enquanto lucrarem
com a fome, com a miséria, com a exploração de regiões pobres do mundo
Somos todos aquele
Menino ilhado na miserabilidade do hediondo estrume social, contemporâneo...
Somos todos aquele
menino Aylan - futuro! – prostrado sob o
sal enfermo de um litoral
Filho de injustiças
históricas; tentando se refugiar muito além da fome, da guerra, da morte
Quando a terra e o
sal da terra e do mar deixam morrer um menino a mingua da consciência humana
Não há mais
humanos. O nosso remorso é apenas uma lágrima no oceano de riquezas impunes, de
lucros injustos... num mar de insanidade palaciais de potências amorais...
-0-
Silas Corrêa Leite,
Itararé, São Paulo, Brasil, Sulamérica do Sol.