Páginas

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Conto de Maria de Lourdes Luciano Nonvieri, de Itararé

Máscara, Arte de Armando Merege Consagrado Pintor de Itararé



Maria de Lourdes Luciano Nonvieri

Summertime

Beleza de música, ouvi ainda ontem. O quanto pode a música, em especial se ela fizer parte de nossa adolescência, de nossa juventude.

Quando as vozes de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong tomaram corpo e ganharam o espaço, me levaram nas suas ondas até um grupo de jovens, nos altos da rua São Pedro, 1270. Ouvidos pregados num grande móvel, uma vitrola em formato de taça, de gosto excêntrico, o som altíssimo, como se assim pudéssemos levar a todo mundo a emoção de ouvir SUMMERTIME em tardes claras, de céu sem nuvens, de verão total, azul, em que nós, garotos poderosos em nossa inocência, sem adivinhar os caprichos da sorte, começávamos a inventar nosso futuro. Futuro a que nos levaria a rua larga, que no sentido leste- oeste, qual um rio, atravessa a cidade nesses dois rumos na direção das capitais de dois Estados.

A cada um de nós, de um modo particular, nos tocava a canção que alimentava nossa imaginação, provocava nossa emoção e se eternizaria em nossa memória.
Naquela época, música era só música. Não era dramatizada. Hoje é um show de sons e imagens delirantes que se sucedem e que corre o mundo em clipes comerciais audaciosos de suas bem assessoradas intérpretes: Madonna, Shakira, Britney Spears, Mariah Carey e outros ícones fabricados pela mídia de massas antecipando- se aos nossos sonhos e interpretações.

Em nossas vidas haveria ainda muitas e belas músicas, acompanhando nossa história. Mas SUMMERTIME voltaria em todos os verões, desde o primeiro, quando tudo era só promessa e o mundo nos aguardava. Quando ainda existia em nós um certo medo, um sabor de transgressão a cada novo passo, uma surpresa a cada nova emoção, a cada descoberta. O ouro da juventude sobre o rio da vida.
De todas as coisas que passam por nós e nós por elas, há de ficar a música, memória sensível, afetiva, pela emoção conferida ao vivido, que nos permite vivê-lo de novo. Então sentimos que a despeito de tudo, teremos para sempre o que o poeta chama de “dias de vinho e de flores” temperados com as graças da paixão. De SUMMERTIME.

Nenhum comentário:

Postar um comentário