"Artistas de Itararé, Cidade Poema"

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Capital Artístico-Cultural Boêmica do Sul de São paulo

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Clã dos Fanáticos Por Itararé, Cidade Poema

Palco Iluminado de Andorinhas Sem Breque

Os Dez Maiores Artistas de Itararé, Ano 2011

Dez Maiores Artistas de Itararé















01)-Maestro Gaya







02)-Jorge Chuéri







03)-Irmãs Pagãs







04)-Paulo Rolim







05)-Silas Correa Leite







06)-Paschoal Melillo







07)-Rogéria Holtz







08)-Dorothy Janson Moretti







09)-Regina Tatit







10)-Armando Merege







Itararé, Bonita Pela Própria Natureza

Itararé, Bonita Pela Própria Natureza
Nosso Amor já Tem Cem Anos

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

As Crônicas Maviosas de André Luiz Leite da Silva, Escritor de Itararé


Resenha Critica

AS CRÔNICAS MAVIOSAS DE ANDRE LUIZ LEITE DA SILVA DE ITARARÉ

“Não é no conhecimento que está o fruto,

é na arte de apreendê-lo”  - São Bernardo

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-Pensar filosoficamente, em tese, pode implicar em compreender as coisas, aqui e ali, de um modo geral, a princípio, por assim dizer, caótico (para os gregos, o caos consistia no abismo profundo, anterior a todo ordenamento), numa contínua busca de tentar compreender a realidade não como algo dado, pronto e resolvido, mas como algo a ser concebido. Com suporte narrativo nesses questionamentos desde o tear criativo inicial, o autor, querido amigo de infância, André Luiz Leite da Silva, servidor público na área de segurança pública (e, portanto, vivenciando a dura realidade de sequelas sociais perigritantes), e graduado em Filosofia, viaja textualmente na busca de tentar compreender e se inserir no pensamento contemporâneo do “humanus”, nesses tenebrosos tempos do politicamente correto, dentro do que poderíamos nominar de uma corrente filosófica humanista (depois do fim das chamadas utopias), e, porque não dizer, neoexistencialista, apontando crônicas pontuais e datadas que nos fazem pensar o sentir, sentir o pensar, refletir e avaliar o problematizado mundo pós-moderno, da individualidade sistematizada em cada um por si e salve-se quem puder, de infovias efêmeras, portanto, André Luiz, no escrever contextualiza assim o próprio pensar e o próprio sentir de uma maneira bem perspicaz, crítica, mas consistente e principalmente com belo vezo humanista, sintetizando em graciosa prosa poética até, o que pensa e sente a partir de leituras, observações, compreensões, acima e sobre todas as coisas tentando compreender a própria alma humana, mais do que ela compreende a si mesma. A vida é uma mentira na qual a civilização entre a Barbie e a barbárie ainda não tem consciência? Periga ver.

-Escrevendo o livro “...EU VEJO VOCÊ”, seleta de crônicas, não dá respostas, antes, aponta novos questionamentos contundentes. Não responde a perguntas, antes, implica em novas indagações no contexto do que narra. Não tem e nem traz verdades perfeitas, plenas e acabadas, em absoluto, mas, de per-si fere a própria pele nos perguntamentos cruciais. Parafraseando Benjamin, Peter Paul Pelbart dizia que não deveríamos nos deixar embalar por um determinismo tão apocalíptico quando complacente, mas que era “preciso escrever-se esse presente a contrapelo, e examinarmos as novas possibilidades de reversão vital que anunciam esse contexto”(...). O que é o conhecimento? O que é a realidade emergente? Qual o sentido da existência propriamente dita? Escovando os subterrâneos da consciência social, tentamos redescobrir o próprio encanto de perceber os moinhos e as pedras rolantes da vida, tentando compreendê-la e também como são as coisas, ou ainda não são... Ferreira Gullar cantava: “Uma parte de mim é permanente(...)/Outra parte/Linguagem...” (Traduzir-se). Existir, à que será que se destina, cantava Caetano Veloso. E ele mesmo, numa balada seguinte se respondia, na sua liberdade criativa: “Cada um sabe a dor e a delícia/De ser o que é...”. Escrever (criar) é isso: dar testemunho de visões de apuramentos interiores, buscas espirituais, a razão e a irrazão nas fermentações, com olhares viçados sobre o incompreensível. Na vida somos todos passageiros de angustias e resignações sublimadas? A verdadeira consciência é ser percebedor do mundo, no caso, percebedor imaginante, pensante, atuante. Filosofar é ser amante da sabedoria, e criar conceitos novos é o objetivo da filosofia, porque, segundo Aldous Huxley (in, Admirável Mundo Novo), a finalidade de todo condicionamento é fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar, e, falando sério, muitos ainda adoram regras, normas, redis, refis, currais, manadas, conceitos dinossáuricos e até mesmo religiões, como uma espécie assim de adestramento nas suas fantasias mal resolvidas, nas frustrações, neuras, irrealizações e incompletudes. A inquietude é a falsa medida de todas as coisas não compreendidas, e as sequelas disso inumanam o quase possível humano em nós? Ah as reservas de algum gomo neural selvagem dentro de nós, entre nós... A bem dizer, poderíamos citar o poema:

-“O rebanho trafega com tranquilidade o caminho: /é sempre uma surpresa ao rebanho que ele chegue/ao campo ou ao matadouro. /Nenhuma raiva /nenhuma esperança o rebanho leva, /pouco importa que a flor sucumba aos cascos /ou ainda que sobreviva. /Nenhuma pergunta o rebanho não diz: /até na sede ele é tranquilo /até na guerra ele é mudo - /o rebanho não pronuncia,/usa a luz mas nunca explica a sua falta /usa o alimento sem nunca se perguntar./Sobre o rebanho o sexo/que ele nunca explicava/e as fêmeas cobertas /recebem a fecundidade sem admiração. /A morte ele desconhece e a sua vida,/no rebanho não há companheiros /há cada corpo em si sem lucidez alguma(...)/O rebanho não vê a cara dos homens /aceita o caminho e vai escorrendo/num andar pesado sobre os campos”. (O REBANHO E O HOMEM, José Carlos Capinan).

-Em belas crônicas, de questionamentos intermitentes, tácitos ou contundentes, André Luiz revela a própria alma inquisidora, no contexto das inquietudes da vida e da sociedade hipócrita, tentando significar para si a razão de ser, de estar e de permanecer no mundo, e assim, de modo sutil ou irônico narra, tripudia, detona, questiona, implica e escreve sobre a sua compreensão dessa espécie no sublimado caos querendo organizar tudo, e relata as próprias relações da vida, e suas impurezas, de purgações a sentimentos de viver isso tudo, e, mais, sobreviver para fazer-se humanus entre pouco humanus ou pseudohumanus. Há olhos de ver e olhos de enxergar, diz o sofista. Ver e sentir pesam olhares sobre clarificações. Pensar o ver, pensar o sentir apurado, sensível, deu nisso. Crônicas de um tempo, de um lugar, dentro de um mundo que, quer queiram, quer não, ainda é um ponto de interrogação à beira do abismo. O ser humano? Bem, essa é questão, o ser e o não-ser, parafraseando Shakespeare. Monteiro Lobato dizia que o homem é a pior poluição do planeta terra, porque é uma poluição inteligente. A melhor filosofia é ser feliz? Ou a melhor filosofia é colocar o dedo na ferida disso tudo, feito uma antena da época, como preconizou Rimbaud?

-A vida também pode ser a arte do encanto de pensá-la, senti-la, nutrí-la de beleza e principalmente questioná-la a partir daqueles que têm uma opinião formada sobre tudo (Raul Seixas). Talvez, mas só talvez, então devamos num primeiro momento buscar a agregação para diálogos, o deguste zen-boêmico, seguindo as leis de Baco, nos posicionando em relação a tudo isso, trocadilhando o poeta roqueiro Renato Russo, sentenciando que, sim, “é preciso amar as pessoas/Como se não houvesse Wifi”(...). Perguntas nos trazem respostas com brumas, e depois outras novas perguntas,  assim, escrever não deixa de ser a filosofia de pensar a própria busca de nós conosco mesmo, nesses tempos que, sedentários e consumidores em potencial, não podemos deixar a comodidade, a insensibilidade e a paranoia continuarem vencendo. Resistir é preciso. Escrevendo que seja. E escrever é como acender fósforos, como pertencer-se a uma tribo na senda cósmica que acaba por fim sendo uma trincheira de resistência em assentos de refinamentos íntimos, nessa peregrinação que nunca acaba em nós, mas mostram almas vivas em jornadas espirituais, de, sim, tentar compreender a vida, o mundo, a civilização, a raça humana, ô raça! Leia e veja-se, pois, afinal, está escrito: “As batalhas nunca se ganham. Nem sequer são travadas. O campo da batalha só revela ao homem a sua própria loucura e desespero, e a história não é mais do que uma ilusão de filósofos e loucos”(William Faulkner, In, O Som e a Fúria).

Silas Correa Leite

O autor, ciberpoeta, blogueiro e professor, escreveu “O Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé”, Romance, Editora Clube de Autores. Site: www.portas-lapsos.zip.net